Hoje estou grata aos familiares que já partiram para outra vida, outro mundo não tão distante deste. Uns só conheci através de fotografias guardadas nos álbuns que a minha tia-mãe fez questão de preservar à passagem do tempo. Gostava de os ter conhecido . Mas sucumbiram à vida  muito antes de eu ter nascido. O que resta da sua presença neste mundo terreno é apenas o registo em papel tal como as estórias das suas vidas contadas em conversas à mesa.

Dizem-me que tenho o feitio muito parecido ao da minha avó paterna e a brancura da pele semelhante ao da minha avó materna.

A casmurrice e teimosia do meu avô paterno e a serenidade e perseverança do meu avô materno.

E eu acredito. Vejo as fotografias guardadas e acredito.

Aos restantes familiares que tive o prazer de conhecer, só posso dizer que fazem-me falta. Muita falta. Todos os dias. Dos abraços dados. Das conversas partilhadas. Das discussões com o dedo em riste. Das palmadas na altura certa. Das risadas  em conjunto. Dos silêncios ensurdecedores. Da gritaria silenciosa.

Resolvi tirar as suas fotografias dos álbuns e criar-lhes um memorial ao ar livre. Hoje sei que estão em paz. Sinto que sim. E eu consigo estar em paz também. Ao meu pai, consegui perdoá-lo. Não por mim, mas por ele. Seria egoísta da minha parte se nada fizesse em relação a isso.

Gratidão por serem parte de mim.

Gratidão por terem criado elos de ligação entre nós.