Semana 23

Desde criança que tenho a tendência a cozinhar ideias. Mas não na cozinha. Nunca tive paciência para preparar pratos verdadeiramente saborosos; daqueles de comer e chorar por mais. As minhas únicas receitas culinárias consistiam em pegar numa colher de pau e raspar os tachos sempre que a minha tia-mãe fazia os seus pudins. Isso ou deixar queimar o arroz devido à falta de água e ao meu esquecimento. Estou decididamente para a cozinha como um guaxinim para pilotar um avião. É um facto. Mas dêem-me um tacho (ou uma panela( e eu dar-lhe-ei mil e uma utilidades que não passem por colocá-lo no fogão, ao lume.

E olhem que cozinhar ideias não é tarefa fácil, pois requer uma força quase hercúlea para trabalhar na receita. É preciso mexer (e muito) bem o preparado para que a obra-prima seja finalizada com sucesso. Muitas dessas ideias podem levar mais de um ano para verem a luz do dia; outras há que são postas de parte por não haver material suficiente para a sua conclusão. Existem, porém, muitos projectos que nunca chegam a sair do papel, por falta de tempo, de vontade, por puro esquecimento... 

Desde criança que tenho a tendência a cozinhar ideias. Mas não na cozinha. No entanto, despertei para a arte de confeccionar um bom prato em 2016. Agora, para além de pegar no tacho e dar asas à minha imaginação no artesanato, também pego na colher de pau e faço um bom repasto de fazer crescer água na boca. A ver se é desta que raspo o tacho com as minhas artes culinárias. Ideias não me faltam. Afinal, cozinho-as desde a infância. :)